Friday, December 02, 2005

Ela passa uma, duas, três vezes na calçada em frente. Quem vê pensa que é louca. Pisa firme com os saltos altos, o toc toc a denuncia. Traz algo nas mãos, de longe parece um terço, mas não é, conheço bem aquele cordão, ganhou de um amigo grego, ela não o larga, diz que dá sorte. Olha alternadamente para a casa e para ao fim da rua, pensa que ainda não cheguei. Faz quase uma hora que está ali, andando de um lado para o outro impaciente, conheço esta impaciência, ela pensa me pegar de surpresa, está com o discurso pronto, adivinho o que diria se abrisse a porta ou me vislumbrasse atrás da cortina:

-Seu cretino, filho da puta, como foi sair com ela? eu pedi tanto que se afastasse daquela filha da mãe!

Logo a raiva se dissiparia, nunca brigamos, basta-me fixar bem os olhos nos olhos dela e sorrir, ela desmonta, vem correndo para meus braços, chora, me faz jurar que nunca mais a farei sofrer. Não digo nada, não posso lhe dizer que também amo a outra.

Vejo suas belas pernas cobertas por meias pretas, “só uso meias pretas”, ela gosta de dizer.

Sei que se abrir a porta, beijarei aquele rosto até que ela sorria: “você é um cretino, filho da puta” dirá sorrindo entre um suspiro e outro, minhas mãos deslizando nas coxas lisas, seda pura, ela estará exausta de tanto esperar, serei eu o condutor, não pedirá nada, se entregará como sempre como se fosse a última. Ela sabe que pode estar certa.