Wednesday, May 18, 2005

O menos estranho.


Pegou o primeiro onibus que parou.

Sentou ao lado do homem menos estranho.
Encostou a perna magra recoberta de seda- segunda pele.
Pensou: nunca mais serei só.

Tuesday, May 17, 2005

Micros contos.

Cerrei os olhos, úmida e quente, deixei que fosse até minh'alma.


Te encontro pronto, teus pés em oferenda. Lírios brancos.



Eu te amo, diz. Minha mão constrita te afasta.




Sunday, May 15, 2005

Micro contos

Aqui estão os micro contos que estão na Casa das mil portas.

1.O sangue espirrou, vi, desta vez, os seus olhos suplicarem.

2.Deu um grito gutural, da boca saia uma espuma branca. Era tarde.

3.Quando a onda me engoliu pedi perdão, e não socorro.

4.Vi o pânico nos olhos, tomei seu corpo com mais desejo. Fundo.

5.Escondi a faca de cortar carne, esta seria sua última trepada.

6.Despertei suja de sêmen, corri a mão no lençol. Frio. Calafrio.

7.Cerrei os olhos, úmida e quente, deixei que fosse até minh'alma.

8.Rubro e úmido meu sexo aguarda o teu buscando outros sexos.

9.Dói áspero teu sexo, me rasga.Finjo prazer para te esfaquear de costas.

10.Quis fazer das pernas tesouras- cortar- tua força venceu.

Friday, May 13, 2005

13 de maio

13 de maio de 2005, noite.

Comunhão.

“A treze de maio na Cova da Iria no céu aparece a Virgem Maria.

Ave, ave, ave Maria, ave, ave, ave Maria...”

“Ave, ave, aveeztruz...”

Entrávamos solenes na capela do colégio, vestidas de gala, mangas compridas, sapatos de verniz pretos. Eu, sacrílega e solene, sentia emoção confusa, desejo de rir e chorar.

O jejum doía, queria sair dali o mais depressa possível.

A hóstia grudada no céu da boca confirmava minha pouca vocação religiosa.


13 de maio de 2005, manhã.
Confissão.

Meninas, uniforme azul e branco, atravessam a praça do Bom Jesus. À frente a freira, urubu negro, puxa a fila indiana, é proibido falar, rir, brincar.

“Eu pecador me confesso, eu pecador me confesso...” ecoa na minha mente enquanto conto meus passos olhando a perna torta da menina da frente.

- “Padre, quero me confessar”.

- “Quais os seus pecados, minha filha?”

- “Tive maus pensamentos”.

- “Então reze dez padre- nossos e dez ave- marias.”

Ajoelho-me na tábua dura e fria e tento rezar, meus maus pensamentos não deixam: ”e se o padre soubesse que o imaginei nu no confessionário, quantas ave- marias e pai -nossos mandaria eu rezar?

Thursday, May 12, 2005

Menina, sete anos, como estaria grávida?

mas, às vezes, ainda ecoam as palavras ríspidas, agudas:
”faz ficar grávida, coisa de puta”.

Não virou puta, esteve sempre grávida até parir, um dia, já murcha, o “filho bastardo”.

Viu, então, pela primeira vez a luz do dia.

Wednesday, May 11, 2005

Menina paralizada na janela sofria.
Agora abro o vidro, me jogo alada.