O menos estranho.
Pegou o primeiro onibus que parou.
Sentou ao lado do homem menos estranho.
Encostou a perna magra recoberta de seda- segunda pele.
Pensou: nunca mais serei só.
Mulher solta seus grilhões.
Pegou o primeiro onibus que parou.
Sentou ao lado do homem menos estranho.
Encostou a perna magra recoberta de seda- segunda pele.
Pensou: nunca mais serei só.
1.O sangue espirrou, vi, desta vez, os seus olhos suplicarem.
2.Deu um grito gutural, da boca saia uma espuma branca. Era tarde.
3.Quando a onda me engoliu pedi perdão, e não socorro.
4.Vi o pânico nos olhos, tomei seu corpo com mais desejo. Fundo.
5.Escondi a faca de cortar carne, esta seria sua última trepada.
6.Despertei suja de sêmen, corri a mão no lençol. Frio. Calafrio.
7.Cerrei os olhos, úmida e quente, deixei que fosse até minh'alma.
8.Rubro e úmido meu sexo aguarda o teu buscando outros sexos.
9.Dói áspero teu sexo, me rasga.Finjo prazer para te esfaquear de costas.
10.Quis fazer das pernas tesouras- cortar- tua força venceu.
13 de maio de 2005, noite.
Comunhão.
“A treze de maio na Cova da Iria no céu aparece a Virgem Maria.
Ave, ave, ave Maria, ave, ave, ave Maria...”
“Ave, ave, aveeztruz...”
Entrávamos solenes na capela do colégio, vestidas de gala, mangas compridas, sapatos de verniz pretos. Eu, sacrílega e solene, sentia emoção confusa, desejo de rir e chorar.
O jejum doía, queria sair dali o mais depressa possível.
13 de maio de 2005, manhã.
Confissão.
Meninas, uniforme azul e branco, atravessam a praça do Bom Jesus. À frente a freira, urubu negro, puxa a fila indiana, é proibido falar, rir, brincar.
“Eu pecador me confesso, eu pecador me confesso...” ecoa na minha mente enquanto conto meus passos olhando a perna torta da menina da frente.
- “Padre, quero me confessar”.
- “Quais os seus pecados, minha filha?”
- “Tive maus pensamentos”.
- “Então reze dez padre- nossos e dez ave- marias.”
Menina, sete anos, como estaria grávida?
mas, às vezes, ainda ecoam as palavras ríspidas, agudas:
”faz ficar grávida, coisa de puta”.
Não virou puta, esteve sempre grávida até parir, um dia, já murcha, o “filho bastardo”.
Viu, então, pela primeira vez a luz do dia.